Reprodução Seletiva do Guppy de Linhagem - Amo Peixe

Como todos os criadores de animais de exposição, os de guppy exercitam o que costumo chamar de "engenharia" genética em busca do aprimoramento da raça. Seus esforços são direcionados para o Padrão do Guppy, no Brasil preponderantemente estabelecido pela International Fancy Guppy Association.
Assim é que um criador poderá estar buscando um avultamento do corpo, pois que sua linhagem é falha neste aspecto, outro procurando uma maior identidade entre a cor da nadadeira dorsal e a da caudal e outro tentando escurecer a tonalidade do vermelho ou aumentar o tamanho da cauda ou sua amplitude.
Normalmente, tais esforços são exercidos mediante a seleção dos exemplares que contenham tais características mais próximas do desejado, em sucessivos cruzamentos.
Em artigo do site, de Valdu Carvalho, um dos mais bem sucedidos criadores nacionais, é possível melhor reconhecer como isso é feito. Valdu aconselha a manter diversas linhagens simultâneas, tais como (1) uma voltada para melhorar a cor, (2) outra para melhorar o formato e (3) outra para melhorar o tamanho, entre tantos outros conselhos preciosos.
Reprodução seletiva, como afirma o nome, é o processo de descartar da reprodução os exemplares que não atendem ao esperado, concentrando-se naqueles que melhor o representam.
O primeiro passo para o cruzamento seletivo é adquirir boas matrizes, que já tenham fixado a maior parte das características desejadas. Ainda que teoricamente seja possível alterar positivamente qualquer aspecto de uma linhagem, na prática é impossível lidar com múltiplos defeitos, pois a superação de um deles na maioria das vezes enfatiza outros.
Além disso, somente matrizes oriundas de um bom criador terão genótipos consistentes com a variedade pretendida. De nada adianta escolher o exemplar mais bonito, perfeito, se o fenótipo, ou seja, aquilo que ele materializou e pode ser visto, não corresponder ao genótipo, ou seja a carga genética que ele pode transmitir.
Caso deseje aprofundar seus conhecimentos em genética, aconselho-o a ler, neste site, a excelente Cartilha de Genética produzida por Philip Shaddock, que consta do link ao rodapé desta página.

Alternativas

Muito embora, tecnicamente, todos os cruzamento entre indivíduos mais próximos do que a média da população, sejam inbreeding, com variáveis coeficientes de proximidade, na prática costumamos classificar de inbreeding aqueles cruzamentos que envolvem parentes próximos, line-breeding, quando há algum parentesco mais distante entre os exemplares, da mesma linhagem, e outcross, quando os envolvidos não possuem qualquer parentesco ou são de outra linhagem.
O inbreeding é o caminho para os campeões ou para os desastres, pois que soma características já semelhantes, potencializando-as. Dele resultam melhorias expressivas de virtudes que ambos possuem, mas também o aparecimento de defeitos não evidentes nos pais. Suponhamos que uma mãe transmitiu aos filhos uma cauda de tamanho excepcional, eis que, geneticamente, carrega esse predicado. Se a cruzarmos com seu filho ou neto, provavelmente teremos caudas ainda maiores. Por outro lado, um defeito na forma da cabeça, recessivo, que não havia se demonstrado, poderá surgir, neutralizando aquela vitória.
Além disso, sabe-se que sucessivos cruzamentos entre parentes próximos, levam a um enfraquecimento geral da linhagem, que se manifesta por redução de tamanho, maior número de deformidades e maior suscetibilidade a determinadas moléstias. Portanto, o inbreeding é como aqueles remédios com elevada capacidade de cura, mas que em dosagens elevadas podem causar malefícios.
Para efeito de line-breeding, mantenha, desde o início pelo menos duas linhagens, a partir de duas fêmeas originais, do mesmo trio. Conduza cruzamentos independentes em cada uma. Essa distinção é a base para futuros line-breedings, ou seja de cruzamento de parentes distantes.

O outcross, por seu turno, deve ser utilizado com extrema parcimônia, pois seus resultados são imprevisíveis. É muito possível, por exemplo, que os filhotes de primeira geração de um outcross sejam melhores do que os próprios pais, mas que na próxima geração a aleatoriedade de resultados comece a se manifestar. Feito um outcross, por algum motivo, retorne ao line-breeding ou inbreeding, para que a linhagem tenha consistência.

Registros

Para fins de controle, costumamos denominar de F0 os primeiros exemplares, normalmente adquiridos de terceiros, de F1 os filhos do cruzamento desses e de F2, F3 e assim por diante, os cruzamentos dos filhos sucessivos.
Em um caderno ou planilha de computador, é imprescindível iniciar os registros com o nome da variedade, criador de origem, idade, data de cruzamento. Identifique as fêmeas como "A" e "B". Anote, também, no vidro dos aquários: a mãe, data de nascimento, quantidade, geração (F?) e ninhada I, II, III, IV, etc..
No rodapé desta página você encontrará um link específico para artigo relativo a controles de reprodução.

Estrutura

Para reprodução seletiva, necessitamos no mínimo de 6 aquários para cada variedade.
  • um para o trio original
  • um para separar as fêmeas em parto
  • um para os filhos machos da fêmea A
  • um para os filhos fêmeas da fêmea A
  • um para os filhos machos da fêmea B
  • um para os filhos fêmeas da fêmea B
Com isso você terá iniciado duas linhagens. Digamos que sejam HB Red, terá então HB Red linha 1 e HB Red linha 2.
Valdu, contumaz vencedor na variedade HB Red e muitas outras, mantém três linhagens simultâneas de HB Red, para não perder a qualidade. Abaixo você pode encontrar link para, se quiser, questioná-lo diretamente acerca de sua estratégia.
Caso sua ambição seja participar de exposições, com chance de vitórias, então para cada uma delas você precisará de 6 aquários, além do destinado às matrizes da linhagem de cada uma das linhagens:
  • um para separar as fêmeas em parto, que poderá ser usado também pelos machos a primeira ninhada
  • um para os filhos fêmeas, do primeiro mês
  • um para os filhos machos, do segundo mês
  • um para os filhos fêmeas, do segundo mês
  • um para os filhos machos do terceiro mês
  • um para os filhos fêmeas do terceiro mês.

Culling

Na reprodução, mesmo de exemplares geneticamente excelentes, haverá uma distribuição estatística de qualidade dos filhos, alguns serão melhores do que os pais, a maioria igual ou pior. Assim, será preciso eliminar a maior parte da ninhada, não permitindo que os exemplares de pior qualidade cruzem com as fêmeas (que já estarão separadas, por conta disso). A eliminação é denominada culling (descarte...). Tais exemplares poderão ser vendidos a lojas com as fêmeas trocadas pelas de outra variedade, para que não se tenha que sacrificá-los.
Agostinho Monteiro, outro criador experiente, com livros publicados sobre o assunto, divulgou recentemente um esquema de seleção de reprodutores que você poderá conhecer em seu site.

Fonte: peixebom.com.br